Caros Colegas,
Sabemos que o manejo das vias aéreas no mundo melhorou após a publicação dos algoritmos a partir do ano de 1993. No início dos anos 2000, introduziu-se o conceito de videolaringoscopia e foram inventados vários dispositivos desse tipo.
A incidência da situação Não-Intubo e Não-ventilo é baixa (<0,4 para cada 10.000 casos) e talvez esse seja um fator que torne os profissionais menos propensos ao estudo mais aprofundado do tema.
Imaginou-se que após a introdução dos videolaringoscopios, que mostraram taxas de sucesso superiores ao laringoscópio direto, a incidência de vias aéreas invasivas seria menor. A redução da necessidade de via aérea invasiva reflete a capacidade aumentada dos profissionais no manejo da via aérea difícil.
O trabalho retrospectivo que cito agora foi publicado em Dezembro de 2016 no BJA mostrou que isso não aconteceu. Esse trabalho é FREE.
O trabalho avaliou os prontuários médicos em um hospital acadêmico retrospectivamente por um período de 8 anos.
Durante o estudo, o número de anestesias gerais subiu de 51455 em 2008 para 85618 em 2015. Os pacientes foram intubados ou receberam um supraglotico entre 31182 em 2008 a 43300 em 2015. O número de pacientes que foram intubados com videolaringoscopio aumentou de 1,8%(391) em 2008 para 16,7%(3988) em 2015 com p=0,0008. O número de intubações acordadas com fibroscopia diminui em aproximadamente 50%.
Porém, a taxa de via aérea invasiva para resgate da situação Não-intubo e Não-ventilo no sofreu muita alteração e se mantém em 0,37 para cada 10.000 anestesias gerais com variação de 0,13 a 0,86 para cada 10.000 dependendo do ano.
A conclusão desse trabalho é que apesar dos profissionais sentirem-se mais confiantes para induzir e intubar os paciente mostrando decréscimo no uso da intubação acordada com fibroscopia, não houve diminuição na realização de acesso invasivo das vias aéreas.
O trabalho ainda afirma que devemos treinar continuamente o manejo das vias aéreas, principalmente as habilidades básicas e também os acessos invasivos das vias aéreas.
Na minha opinião, criou-se uma aura em torno do videolaringoscopio e do sugamadex e isso pode levar a excesso de confiança e falha no atendimento. Não sou contra nenhuma dessas inovações mas elas devem sempre estar associadas ao conhecimento e proficiência das técnicas disponíveis.
Obviamente, necessitamos de mais estudos mas essa é a direção que a "flecha" está apontando no momento.
Abraço,
Daniel Perin
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