Segue relato de caso enviado por um aluno do curso do CTVA que será apresentado no congresso da ASA em Chicago nesse ano (2016).
INTRODUÇÃO:
Pacientes apresentando encefalocele, um quadro clínico raro, faz do ato
anestésico um desafio. Encefalocele é o defeito do tubo neural que se caracteriza pela
protrusão do cérebro e meninges através de um defeito no crânio. Além dos cuidados
inerentes da anestesia pediátrica, o anestesista tem que lidar com o posicionamento
incomum, dificuldade de intubação traqueal e anomalias associadas durante o curso
perioperatório. A utilização de testes preditivos na avaliação da via aérea difícil, como
parte da rotina clínica é limitada na população prediátrica e em especial na população
neonatal. A ocorrência de anomalias congênitas pode ser um indício para o potencial
dificuldade de intubação.
RELATO DE CASO:
Paciente neonato feminino, 12 dias, 2.260 kg, estado físico PII e avaliação
cardiológica classe I, com quadro de encefalocele grande em região occipital íntegra
associado a microcefalia, submetida a tratamento cirúrgico de encefalocele posterior
gigante. Monitorizada com SpO2, PANI, ECG (DII e V5), ETCO2, temperatura esofagiana
e diurese. Realizado indução anestésica EV com fentanil (0,7mcg/kg) e propofol (2,7mg/kg). Realizado intubação orotraqueal em decúbito lateral esquerdo com tubo orotraqueal
número 2,5 e manutenção com sevoflurano e óxido nitroso sem intercorrências. A
ventilação manual sob máscara foi fácil e monitoriazada através da capnografia. Como
dispositivos de resgate, havia dispositivo supraglótico tipo máscara laríngea,
videolaringoscópio Airtraq Neonatal e equipe cirúrgica pronta para realização de
cricotireoidostomia por punção ou traqueostomia se necessário. O procedimento cirúrgico
ocorreu sem intercorrências, sendo encaminhado para UTI Neonato estável
hemodinamicamente e entubado, sendo extubada no pós-operatório tardio sem
intercorrências.
DISCUSSÃO:
O manejo de crianças com encefalocele gigante requer o conhecimento atualizado
sobre as possíveis dificuldades encontradas durante o período perioperatório. Eles
precisam de cuidados anestésicos especializado para lidar com a intubação traqueal
difícil, anomalias congênitas associadas, posicionamento incomum, distúrbios
hidroeletrolíticos, hipotermia e distúrbios cardiorrespiratórios. A antecipação à possíveis
eventos complicadores, uma atenção integral multidisciplinar durante o período
perioperatório além de um bom entrosamento com a equipe cirúrgica são fatores
essenciais para a realização de um procedimento seguro.
REFERÊNCIAS:
- Walia B, Bhargava BP, Sandhu K. Giant Occipital Encephalocele. MJAFI. 2005;61:293–
4.
O CTVA agradece ao Dr. Cirilo Haddad por ceder esse caso em nosso BLOG!
Caro Cirilo,
ResponderExcluirAgradeço por compartilhar o caso em nosso blog pois é assim que aprimoramos nosso conhecimento. Esse caso demonstra que ter a estratégia é fundamental e isso ficou claro durante o seu relato. Você tinha vários dispositivos para pronto uso caso as coisas não caminhassem de acordo. Cabe salientar que cricotireoidostomia em crianças abaixo de 2 anos é tecnicamente muito desafiadora pois as cartilagens tireóide e cricóide ainda são muito pouco definidas e a membrana é muito pequena dificultando a sua localização para a técnica de punção.
Pelo que entendi, apesar do possível desafio, a laringoscopia direta foi efetiva no manejo da via aérea o que nos faz lembrar que ainda é um dispositivo que tem uma alta taxa de sucesso. Gostaria de saber qual a lâmina que usou e número.
Abraço,
Caro Dr Daniel,
ResponderExcluirMuito obrigado pela oportunidade. Utilizamos a lâmina reta número 1,0. Foi tranquilo e sem intercorrências. Colocar o paciente em decúbito lateral esquerdo facilitou para o sucesso do procedimento. Abraços