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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL - COMPARAÇÃO ENTRE VIDEOLARINGOSCÓPIO E LARINGOSCOPIA DIRETA NA UTI

Colegas,

A revista JAMA, nesse ano, acaba de publicar artigo feito em 7 diferentes terapias intensivas na França, comparando um videolaringoscópio e a laringoscopia direta em 371 pacientes adultos randomizados.





O objetivo foi comparar essas duas técnicas em um cenário de UTI onde o paciente em muitas das vezes não se apresenta em jejum e está na vigência de hipóxia.

Em todos os paciente foi realizada anestesia geral com hipnótico e bloqueador neuromuscular para intubação. Preferencialmente succinilcolina (1 mg/kg) e se contra-indicado, rocurônio 1 mg/kg e etomidato 0,2-0,3 mg/kg ou cetamina 2 mg/kg.

Foi escolhido o videolaringoscópio McGrath MAC, SEM fio guia, como recomenda o algoritmo francês. 

A primeira tentativa de intubação foi realizada por "experts" em via aérea em 16,2% dos casos e o restante por não "experts" (83,8%).

NÃO HOUVE diferença estatística entre os dois grupos na taxa de sucesso na primeira tentativa de intubação. Porém, a proporção de complicações graves (óbito, parada cardiorespiratória, PAM< 90 mmHg e hipoxemia severa SpO2<80%) foi maior no grupo videolaringoscopio (9,6%) quando comparado ao grupo laringoscopio convencional (2,8%) com intervalo de confiança de 95% (1,8% a 11,6%); P=.01

Os autores discutem que a melhor visualização da fenda glótica com o videolaringoscópio da a falsa sensação de segurança quando a intubação é feita por médicos que não são "experts".

O estudo teve a intensão de enfatizar que na maioria das vezes as intubações são realizadas por médicos menos experientes, não especialistas, principalmente fora do centro cirúrgico.

Concluiram que em pacientes que necessitam de intubação na UTI, o videolaringoscópio não melhorou a taxa de sucesso na primeira tentativa de intubação orotraqueal e foi associado a taxas maiores de complicações severas quando comparado ao laringoscópio direto. 

Gostaria de fazer alguns comentários:

1) Esse trabalho comparou um videolaringoscópio com lâmina de macintosh e o laringoscópio direto com lâmina de macintosh. Como usamos a mesma lâmina com a mesma curvatura, não é de se esperar que os resultados serão semelhantes???? O fato de ver em uma tela ou sob visão direta fazem diferença??? Na minha opinião, NÃO!!!!!

2) Os videolaringoscópios com laminas de macintosh convencional como o McGrath MAC e o C-MAC são excelentes para ensino e treinamento de médicos em formação mas obviamente não melhoram a taxa de sucesso na intubação pois se vocês tiverem a curiosidade de olhar diretamente a fenda glótica ao invés de olharem a tela do videolaringoscópio, terão a mesma imagem pois obrigatoriamente, com esse tipo de lâmina, necessitamos de um alinhamento dos eixos oral, faringeo e laringeo.

3)Portanto, dizer que o videolaringoscópio foi pior que o laringoscópio convencional, nesse trabalho, é muito simplista. Os autores colocam que deve-se fazer mais estudos. 

Para finalizar, acredito que, quando falamos e propagamos a ideia de videolaringoscopia, não estamos falando de laminas de macintosh ou miller. Queremos comparar lâminas mais anguladas, que podem fazer a diferença em pacientes com VAD.

Tudo que está escrito aqui é interpretação pessoal e não necessariamente reflete a intensão dos pesquisadores.


Daniel Perin


Um comentário:

  1. Caro Daniel . Concordo com suas posições . Os videolaringoscópios trouxeram uma quebra de paradigma quanto ao acesso às vias : o conceito de que quando visualizamos as estruturas da glote (aritenóides , cordas vocais e ou fenda glótica)a intubação é facilmente alcançada. Atualmente contamos no mercado com dispositivos extremamente diversos quanto a forma das laminas , captação da imagem e deslocamento do tubo traqueal . Cada novo dispositivo apresenta características peculiares que exigem estudo e treinamento para alcançar o máximo de eficiência. Assim o novo conceito é aquele de que mesmo obtido uma boa imagem das estruturas anatômicas , a intubação pode ainda ser difícil ou trabalhosa . Assim como na laringoscopia direta , o treinamento e o aprimoramento técnico são diretamente proporcionais ao sucesso .
    Grande Abraço .
    Mauricio Malito.

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