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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

TRAQUEOSTOMIA ELETIVA É OPÇÃO EM VIA AÉREA DIFÍCIL?

Paciente M.O., masculino, 75 anos, 68 kg, 1,68m (IMC:24), 

ASA 3 (ex-tabagista: fumou 2 maços por dia por 50 anos, hipertenso, diabético tipo 2, hipotireoideo, coronariopata com angioplastia e "stent"em 2005).

Exame da Via Aérea: Mallampati 4 e abertura bucal restrita por trismo (dor facial de difícil controle).

Em maio 2007, foi feito diagnóstico de carcinoma espinocelular de hipofaringe (T3N2M0), realizada cirurgia com esvaziamento cervical e radioterapia e braquiterapia. Em 2012, realizada rizotomia do nervo trigêmeo.

Em dezembro de 2012, feito diagnóstico de um segundo câncer primário de cabeça e pescoço (lesão ulcero-infiltrativa de loja amigdaliana a esquerda medindo 3 cm acometendo toda a borda da língua (T3N0M0). Iniciada quimioterapia neoadjuvante. Não operado por complicações pulmonares.

Em julho de 2013, realizada ressecção da lesão da loja amigdaliana associada a glossectomia parcial esquerda e reconstrução com retalho microcirúrgico de MSE.

Outubro 2013 - tomografia mostrando recidiva do tumor dna base da língua (20x15mm)





Conduta: exploração cirúrgica para biópsias.

A anestesiologista optou por fazer a fibroscopia com o paciente sob anestesia tópica e sedação consciente. O fibroscópio do serviço de anestesia é pediátrico. 


Disse que enxergou uma "massaroca" e não sentiu-se confortável para continuar. Optou por solicitar a presença do cirurgião torácico com fibroscópio adulto que falou que iria tentar passar o tubo e caso estivesse difícil, a equipe da cabeça e pescoço faria uma "traqueostomia de emergência"

Nesse momento, a anestesiologista interferiu e disse que de forma alguma eles iriam arriscar a vida do paciente. Ele, posteriormente a cirurgia, ficaria com traqueostomia e porque não fazer eletiva sob sedação?

As equipes concordaram. A traqueostomia foi realizada sem intercorrências e o paciente foi encaminhado para o quarto após permanecer na sala de recuperação por 2 horas com nebulização na traqueostomia.

Detalhe: foi realizada outra tomografia posteriormente ao procedimento e o tumor havia crescido e não havia praticamente espaço na via aérea.

Segue abaixo depoimento da Anestesiologista do caso:



 O CTVA tem o objetivo de proporcionar aos alunos respaldo técnico e científico para conduzirem da melhor forma possível seus casos diários. Esse depoimento nos deixa muito felizes pois estamos conseguindo atingir nosso público alvo:    O PACIENTE!

Abraços,

Equipe CTVA






terça-feira, 3 de dezembro de 2013

"OLHO DE MURPHY"- UTILIZAMOS TUBOS TRAQUEAIS TODOS OS DIAS E SABEMOS QUAL A REAL FUNÇÃO DO "OLHO DE MURPHY"?

Na Revista Anesthesiology, em 2010, o Dr. John Forestner descreveu com muito cuidado a biografia do Dr. Francis J. Murphy; o idealizador do olho de Murphy.
Segue um resumo do artigo:

O Dr. Francis John Murphy nasceu em 11/03/1900 na cidade de Oldham, Dakota do Sul. Foi o primogênito de três filhos. Sempre gostou de ser chamado de Frank. Quando tinha 9 anos, sua família mudou para uma fazenda em Alberta (Canada). Quando acabou a escola, foi para a Universidade Gonzaga em Spokane (Washington). Ficou um ano e logo após pediu transferência para a Universidade de Alberta em Edmonton mas como essa universidade não oferecia o diploma médico, ele foi transferido para a Universidade McGill em Montreal (Canada), aonde terminou sua graduação em 1925.
Foto do Dr. Murphy na Graduação.




Depois de graduado, casou-se com Anne Scullin, enfermeira nascida em Montreal e teve 2 filhas (Margaret e Elizabeth). Durante a Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Marinha e foi Chefe da Anestesia no Hospital Naval de Pearl Harbor. Após a guerra, foi convidado para ser o Chefe de Anestesia da Universidade da California (São Francisco). No final da década de 50, foi dispensado pela universidade que alegou que seu programa de residência não tinha a qualidade necessária para o treinamento dos novos anestesiologistas.

Comandante Frank J. Murphy
Em 1953, comprou um rancho em "Hoodoo Valley" próximo a Spirit Lake, Idaho. Depois de sua saída da universidade, ele trabalhou em Montana de 1959 até sua aposentadoria em 1970. Faleceu 2 anos mais tarde de câncer de bexiga.

"OLHO DE MURPHY":

Os tubos traqueais foram usados pelas primeiras vezes em meados de 1930, confeccionados por anestesiologistas que tinham os seus próprios tubos derivados de catéteres uretrais e retais. Somente a partir da década de 40 que os tubos passaram a ser manufaturados.

Em 1941, Dr. Murphy, descreveu em seu artigo dois desenhos de cateteres intratraqueais introduzindo a idéia de que tubos multi-orificiais poderiam aumentar a segurança nas anestesias. Os tubos continham um orifício distal com corte diagonal (descrito por Magill duas décadas antes para facilitar a passagem do tubo pelas cordas vocais) e 1 ou 2 orifícios (ovais) na lateral do tubo para evitar a obstrução  completa do tubo por muco. O Dr. Murphy não mencionou obstrução anatômica do orifício distal. Isso só foi comentado em um livro escrito por John Lundy em 1942.

Obstrução Anatômica do orifício distal do tubo traqueal.
Ilustração do formato do tubo traqueal descrito pelo Dr. Murphy. Na parte superior, estilete de metal para auxiliar a introdução do tubo traqueal.
Essa inovação alterou o formato dos tubos traqueais quase imediatamente. Era uma solução simples para dois problemas: obstrução anatômica e obstrução mecânica por secreções. A posição do "olho de Murphy" na parede lateral direita do tubo também ajuda na preservação da ventilação do óstio do lobo superior direito nos casos em que o tubo fica seletivo à direita. Não se sabe se o Dr. Murphy reconheceu essa vantagem relativa ao seu orifício lateral!

O Dr. Gillespie erroneamente, atribuiu os créditos da introdução de um balonete de insuflação no tubo para o Dr. Murphy. Porém, a colocação de um balonete foi sugerida inicialmente pelo Dr. Ralph Tovell (1901-1967) da Clinica Mayo.

O Tubo com balonete e "olho de Murphy" que o Dr. Murphy utilizou durante sua prática clínica continha suas iniciais inscritas na lateral ("F.J.M.").

O MAIOR LEGADO QUE O DR. MURPHY NOS DEIXOU E QUE JA DURA 70 ANOS FOI O "OLHO DE MURPHY"

Cordiais saudações,

Equipe CTVA